Por Juliana Sawaia
Meu funeral será uma grande festa, pena que participarei deitado.
Li esta frase num livro onde o personagem principal, vítima de uma doença letal, opta pelo suicídio assistido. Ao passear pela narrativa tão desconcertante e bem humorada de quem escolheu data e hora da sua própria morte, me senti invadida por uma afinidade perversa.
Participar de qualquer festa deitado, não deve ser divertido mesmo.
Imagem: http://www.louletania.com/funerais-de-antigamente/
Em uma de suas frases, Marcello Marchesi, escritor italiano, afirma que o importante é que a morte nos encontre vivos. Sendo assim, todas as reflexões sobre estar ou não vivo residem no silêncio de sentir-se como tal. E, qualquer fragmento de inverdade, ainda que Naïf, neste hiato, deve ser respeitado e celebrado. Há, entretanto, um contrassenso hiperbólico. Ele, o tal suicídio, covarde, corajoso e solitário, torna-se um evento moribundo e humanizado, pela simples consciência camuflada no desígnio, quase coletivo, da hora de partir.
Me pego pensando nos espectadores melancólicos e intrometidos às voltas com sua impotência. Enquanto o protagonista organiza com saudosismo sua mala invisível, os coadjuvantes vestem seus sentimentos como quem escolhe uma roupa fúnebre.
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